Ó Pulsão de Morte
Por que é tão difícil me livrar de ti?
Por que tens esse sabor tão doce
Que impregna até o fundo de mim?
Quem foi o grande gênio
Que fez do obsceno tão belo?
Quem foi que conseguiu fazer
Da morte algo que espero?
Por que é que tem que ser assim?
Por favor, alguém me diga
Como pode ser tão difícil
Achar algo de valor na vida?
Quero apenas me embriagar
E não ter de encarar a verdade
Ficar chapado, me anestesiar
Escondido da realidade
Que culpa posso ter eu
Se meu cabresto veio quebrado?
Ter boa vista não é uma boa
Quando não se tem ninguém ao seu lado
Sigo então andando
Como um viajante na escuridão:
Cantar, realmente, doutor*
Não me fará enxergar melhor
Mas declamar essas palavras
Faz com que não me sinta tão só
*”O viajante surpreendido pela noite pode cantar alto no escuro para negar seus próprios temores; mas, apesar de tudo isto, não enxergará mais que um palmo adiante do nariz.” (FREUD, Sigmund. in Inibições, Sintomas e Ansiedade. 1926/2006 p. 12)