
Devastação Paterna
Durante anos construí grandes e altos castelos
Esperando que um dia me notasse.
Concedi entrada livre para ti no meu reino
Na esperança que algum dia viesse.
Me tornei um vigia, para por ti esperar
Durante mais de duas décadas expectei
Nem mesmo as chuvas ou tempestades, impediam minha missão
Cada vez que a escuridão tomava a noite, meu coração era lacrado
O negrume era sinal de que mais um dia se passava, e sua presença estava ausente.
Meu esperançoso coração foi tomado pelas ervas daninhas da dúvida
Os grandes, altos e sólidos castelos que construí para espera-lo, foram se desfazendo
Meu grande reino dedicado a esperar sua presença ruiu.
Ruiu com um simples vendaval, que arrancou os castelos de areia da base.
Os ventos se fortificaram com a minha dúvida
A cada badalada do relógio, eles se alimentavam da minha tristeza.
As poeiras das minhas idealizações me sufocaram.
Durante horas, dias e anos fiquei imóvel.
Fiquei paralisado. Pois minha motivação diária era esperar sua presença
Esperar que sua voz trouxesse redenção para a destruição que sua ausência causou.
Esperar que seu abraço rompesse as algemas da solidão que a sensação de abandono resultou.
Esperar que sua volta levasse embora a guerra
Esperar que no final do dia seu afago me redimisse
Mas você nunca veio, minha redenção nunca chegou, e meu reino ruiu.
A poeira da esperança tomou meus pulmões.
Os cristais de areia petrificaram meu coração.
Durante alguns anos causou minha morte.
Uma morte que foi prevista pelos profetas, que disseram que um pai poderia nunca voltar.
Um mesmo profeta que disse que o homem é dono do seu destino
O homem é dono das chaves de suas algemas
O homem é o seu próprio redentor.
O relógio badalou muitas, muitas e muitas vezes
O sol trouxe os dias durante muito tempo
E muitas estações percorreram o reino
Depois de um longo tempo, a areia de dissolveu
Os pulmões antes poluídos voltaram a respirar
O coração não voltou a ser o mesmo, mas foi capaz de pulsar
Nas décadas que se seguiram, o reino prosperou
A relva nunca foi tão verde
As plantações cresceram, e os lagos nunca estiveram tão cheios
O céu segui seu ciclo… Dia e noite, um subjugando o outro
Agora na mais alta torre não havia uma única vida
Não habitava um único vigia
A vida seguiu. Como deveria? Jamais
A vida como clico que pude suportar
O ciclo que compensava com outras pessoas a sua ausência.